segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Sensibilidade de Vhida Manoela


A SENSIBILIDADE DE VHIDA MANOELA

Que me desculpem meu editor, minha Coach e qualquer outra pessoa que esteja a esperar algo de mim em termos de tarefa ou produtividade, tenho que separar um tempinho para registrar algo que me tocou profundamente — algo que não posso deixar para depois —, a sensibilidade de Vhida Manoela, minha netinha de apenas sete anos...

Ontem à noite, à véspera do meu aniversário, quando nos preparávamos para dormir, ao me abraçar e me beijar de maneira dengosa e cheia de carinho, tal qual a mãe dela sempre fazia, Vhida falou baixinho ao meu ouvido e fez esta pergunta: “vovô, você gosta de geleia no seu pão?” Parei então um tanto intrigado, querendo compreender antes de responder — como deveríamos fazer, especialmente ao ouvir às crianças —, mas não entendi nada... Como já íamos dormir e ninguém iria comer àquela hora, mesmo sem entender, respondi à Vhida Manoela: “sim, eu gosto de geleia no meu pão”...  Ela só disse: “OK”, e já ia saindo quando ainda me arrisquei em perguntar “por que?” Mas, como alguém que ocultava algum segredo, ela apenas deu de ombros, disfarçou, e disse: “nada não, vovô...” E eu então, continuando sem entender, simplesmente esqueci o fato e fui para meu quarto...

Hoje, dia do meu aniversário — agora sou um vovô de 64 anos —, levantei cedo e, como normalmente, fui fazer minha caminhada... Quando retornei ainda reinava silêncio em toda a casa... Terminando meus exercícios, comecei a me vestir para sair e retomar o trabalho no livro que estou escrevendo... De repente, surgiu a surpresa e o mistério da noite anterior se revelou... Ao ouvir uma batidinha de leve à porta do meu quarto, acurei o ouvido e escutei melhor... A batidinha se repetiu... Então, abri a porta e... que cena agradável!... Ali estava Vhida Manoela num jeitinho acanhado mas alegre e sorridente...  Com um pouco de dificuldade, ela segurava numa mão um prato de morango e banana picada, e na outra (num guardanapinho de papel dobrado), uma torrada coberta de manteiga e geleia meio misturadas... Vestida ainda de pijama e com carinha sonolenta, ela abriu um lindo sorriso e me ofereceu o que havia preparado... Só aí entendi o significado daquela pergunta tão enigmática que ela fizera na noite passada — se eu “gostava de geleia no meu pão...”

Recebi tudo com alegria e agradeci à Vhida Manoela... Depois, ao sair para a cozinha, vi o resultado do esforço e do trabalho apressado de fazer tudo sozinha e de querer me surpreender... As gavetas de onde retirara as facas estavam abertas, a manteigueira e o pote de geleia estavam destapados, e sobre a tábua de cortar estavam vários pedacinhos de banana e de morangos não aproveitáveis... 

Vhida nem sabia que eu havia levantado cedo, já tinha feito minha caminhada e agora me preparava para voltar à cozinha e fazer meu café... Mas, certamente ela ouviu algum barulho no meu quarto e, para não se atrasar com a surpresa, apressou seu trabalho... Mais tarde ela confidenciou à vovó: “sabe, eu ia fazer também o café do vovô (eu sei fazer), mas eu estava in a hurry (com muita pressa) porque eu queria fazer surpresa antes de ele sair do quarto...” 
Foi um momento gostoso, a primeira surpresa do meu aniversário... 
Depois, fiquei pensando: que atitude sensível dessa criaturinha de sete anos!...  Mas, vindo de quem veio, conhecendo os pais, eu nem deveria me surpreender, apenas me alegrar e ficar encantado com a sensibilidade de Vhida Manoela... MM, 18-06-12

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